"Qualquer argumentação filosófica que não tenha como preocupação principal abordar terapeuticamente o sofrimento humano é inútil..."
Epicuro

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Um Novo Paradigma Industrial II


Depois de ler o livro "Os Limites do Possível" do André Lara Resende e ver o documentário "A Conspiração da Lampada Elétrica" de Cosima Dannoritzer, decidi reescrever esta postagem:

A Superindustrializacao
Na década de 1970 Alvin Toffler detectou com maestria o surgimento da era da superindustrialização (Terceira onda) em seus fabulosos livros: O Choque do Futuro e a Terceira Onda. Em sua análise ele nos mostra que o usos da tecnologia nos processos industriais passou a permitir produções em altíssimo volume, com baixo custo e com possibilidade de diversificação e personalização dos produtos. Estes dois livros, com uma lucidez e atualidade assombrosas, nos trouxeram uma visão otimista do futuro, mas durante estes 40 anos algo saiu errado: a humanidade, como é característico -  acelerou, aperfeiçoou, otimizou e por fim esgotou o modelo econômico - industrial. Isto mesmo, hoje vivemos um claro esgotamento deste modelo.

O Esgotamento do modelo
A superindustrialização com seu trinômio grandes volumes + baixo custos + obsolescência programada, de todo tipo de produtos, até aqueles que nem sabíamos que necessitávamos, nos causou o primeiro e mais claro efeito colateral indesejável: o profundo desequilíbrio ecológico. Enquanto a equação produto novo mais barato que consertar o atual for verdadeira, teremos o meio ambiente pagando o preço desta distorção mercadológica...
O segundo sinal do claro esgotamento é a forte concentração de renda e o desemprego que estamos observando nos países desenvolvidos. Estamos vivenciando uma “ocupação de Wall Street” em protesto contra o desemprego e o lucro excessivo dos bancos - quem poderia imaginar, alguns anos atrás  um protesto em Wall Street contra lucros...
Um terceiro sinal, este muito mais sutil, é um crescente vazio existencial somado a uma baixa auto-estima. Estes sintomas são fruto em parte  desta era do efêmero que estamos vivenciando onde as pessoas são medidas pelo modelo do celular que carregam no bolso e que se renovam a cada 3 meses. O desemprego em alta (no caso dos países desenvolvidos) também contribui para o aumento da insatisfação pessoal. Podemos também citar a busca de lucros/bônus astronômicos bem como o aumento das fraudes corporativas e casos de corrupção como uma clássica busca de compensação do vazio existencial através do dinheiro - uma busca sem fim...

Uma Proposta de Mudança - a substituição da obsolescência programada pela reciclagem profissional
Com estes claros sinais do esgotamento do paradigma atual, resta-nos buscar algum novo modelo que corrija as distorções do anterior e que possa ser implementado de uma forma gradual, com uma transição o mais suave possível.
Partindo destas premissas, imaginemos um cenário onde os produtos industriais fossem projetados e produzidos incorporando uma característica que faria uma grande diferença: os produtos seriam projetados para serem desmontados e consertados após sua “primeira vida útil”.
Tentarei explicar melhor com um exemplo: Imagine um celular (smart phone) novo que após 1 ano apresentou um problema e o seu proprietário decidiu trocá-lo por um novo modelo.
O cliente retornaria a loja onde comprou o equipamento, entrega o equipamento com defeito como parte do pagamento, paga a diferença e sai com o novo equipamento.
O equipamento com defeito ao invés de ser sucateado iria para uma linha de desmontagem (+ empregos) que, com processos de alta tecnologia (+ empregos de especialistas em processos industriais), desmontariam o equipamento e separariam as peças e partes em bom estado, que iriam para um mercado secundário de reposição/conserto de equipamentos, enquanto as peças defeituosas iriam para a reciclagem.
Computadores pessoais poderiam ser reprojetados - hardware e sistema operacionais para crescerem modularmente (como já são os servidores corporativos) o que evitaria (ou diminuiria) a obsolescência programada e abriria novos horizontes para empreendedores neste tão vigoroso segmento de indústria.
Neste novo paradigma, com eletrodomésticos, computadores, celulares, games, brinquedos
e automóveis projetados para serem desmontados e consertados,
viveríamos uma grande necessidade de mão de obra qualificada e treinada parafazer os reparos nos equipamentos - seria o surgimento dos artesãos de altatecnologia (+ empregos + empreendedores).
Se expandirmos este conceito dos artesãos de alta tecnologia para outros seguimentos poderíamos ter por exemplo:

Notem que esta mudança de modelo industrial poderia minimizar o desequilíbrio ecológico, bem como criar novos empregos e novas oportunidades para empreendedores.
Artesãos mecânicos automobilísticos, artesãos de couro, marceneiros, carpinteiros e muitos outros tipos de artesãos.
Este ressurgimento dos artesãos geraria como efeito complementar um aumento do nível de auto-estima e realização profissional devido ao fato do artesão dominar todo o processo e poder ver o produto final de seu trabalho. Quem já consertou um brinquedo de uma criança sabe qual é esta sensação...

Como Começar
Os grandes mercados consumidores de produtos industrializados (EUA e Europa) deveriam criar  centros de pesquisas e institutos certificadores que criassem procedimentos e processos padrões para a industria garantir a possibilidade de conserto e desmontagem dos produtos. Estes produtos teriam selos de conformidade que garantiriam a aderência a estes processos e características.
Campanhas publicitárias para explicar à população a importância de produtos com estas certificações seriam importantes para acelerar conscientização dos mercados consumidores.
Impostos adicionais para produtos sem certificações para ajudar a equalização de preços ajudaria a acelerar o processo de transição da indústria para os novos processos.
Notem que precisamos focar esforços em processos produtivos inteligentes que produzam riquezas, com geração de empregos e de forma equilibrada e muito mais auto-sustentável.
 

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